Esse conto é bem curtinho porque é só um exercício de diálogo. Tenho um projeto para um livro – uma série, na verdade – e esse diálogo faria parte dele.
Nem sei se é sábio publicar, mas f0d@-$3! Não é como se tivesse alguém, fora eu mesma, lendo esses artigos de qualquer maneira 🫠.
O Nascimento de Azareel
– Como assim não tem asas? – Marphilion piscou os olhos rapidamente como se lubrificá-los pudesse fazê-lo ouvir melhor.
– Está aqui. Não tem asas. Veja o senhor mesmo. – Ranpaphim estendeu seus braços em um ato de entrega, segurando o bebê com as mãos como se fosse um pacote.
Embora devesse tê-lo recebido, Marphilion, o velho arcanjo – embora anjos mantenham a saúde e aparência de um jovem adulto eternamente – continuou apertando as mãos uma contra a outra, sem perceber, na altura do ventre.
– E o que seria isso escuro em sua cabeça? – Perguntou depois de analisar à distância o bebê que dormia quietinho sem saber que já tinha vindo à existência.
– Acredito que seja cabelo, senhor. – Ao perceber que o velho arcanjo não pegaria o recém-chegado, Ranpaphim trouxe-o novamente para perto de si, dobrando os braços. Olhava-o com curiosidade. – Precisamos apresentá-lo à comunidade, senhor.
Marphilion não respondeu. Quase todos os anjos da cidade de Norbilian estavam esperando na praça em frente ao Templo do Surgimento, com exceção dos que estavam em missão ou de guarda. Reuniam-se assim todas as vezes que a nave central se acendia com uma cor vermelho-alaranjada como se o sol estivesse surgindo de dentro do prédio.
Esse era o anúncio da chegada de um novo anjo. Uma graça do Criador aos citadinos, abençoando-os com mais um ser divino para o serviço de Sua glória.
– O senhor acha que estamos sendo punidos? – Ranpaphim não conseguiu segurar a língua.
O velho arcanjo deu-lhe as costas e caminhou na direção da janela. Observou a multidão de cabeças e asas lá embaixo. Nunca um norbiliano havia caído. Norbilian era a cidade perfeita. A mais perfeita entre as cidades angelicais. Se havia sido punida com um ser imperfeito, alguém lá embaixo deveria ter dado causa para tanto.
De uma maneira ou de outra, não teria como evitar a provação. A cor da luz da nave central estava mudando até que se tornasse branca e uma com a luz natural. Os anjos à espera já sabiam que o novo norbilian estava entre eles. Marphilion não poderia escondê-lo, deveria apresentá-lo.
Precisava decidir a melhor maneira de fazê-lo, no entanto. Conforme a tradição, assim que abrisse os olhos, o arcanjo líder levava o recém-chegado até a sacada, mostrava-o a multidão, e depois o soltava. A divina criatura abria suas pequenas asas e alçava seu primeiro voo. Esse momento refletia toda a magnificência e perfeição de um ser angelical, levando os outros anjos às lágrimas de júbilo.
O que aconteceria se um bebê-anjo sem asas caísse daquela altura, porém?
– Senhor, está acordando. – Ranpaphin tentou tirar o velho arcanjo de suas reflexões. Os olhos do anjo-ajudante alargavam-se à medida que os do pequeno ser em seu braço abriam-se pela primeira vez.
Sem virar-se, Marphilion considerou se deveria seguir a tradição, todavia. Era possível que aquele evento não fosse uma punição, e sim o Criador a testar sua fé apenas. Uma pequena prova que o arcanjo era merecedor e deveria continuar como líder de Nobilian. Durante a queda, Ele clarearia os cabelos do pequeno e o proveria com asas como exibição de seu mensurável poder.
– Oh! – o outro que segurava a criança exclamou, quase deixando-a cair.
– O que foi dessa vez, Ranpaphin? – Marphilion voltou-se. O anjo-assistente o encarou por um segundo com olhos ainda mais arregalados, mas não lhe disse palavra e voltou a admirar a criatura em seus braços.
O líder arcanjo aproximou-se com passos pesados, mesmo tentado manter a compostura. Os olhos pequenos e sem nenhuma prega na pálpebra do novo anjo estavam bem abertos, exibindo insólitas írises magentas. A maxila de Marphilion travou.
– Já tinha visto isso antes, senhor? Não são azuis, nem verdes, nem mel…
Anjos não morrem naturalmente, mas podem ser assassinados se houver – nem que seja inconsciente – a intenção de eliminá-los. Marphilion não deveria seguir a tradição. Se aquilo tudo não fosse um teste de fé, Norbilian teria seu primeiro anjo caído.
O que foi o Desafio.
Em teoria, esse seria o dia 5 do Desafio de Contos em 30 Dias que estou fazendo em 30 anos. No entanto, fiquei insatisfeita com a Casa do Contista, então essa é a última vez que pretendo mencioná-los aqui.
Ano passado, era até legal, nossas perguntas eram respondidas com atendimento humano. Mas agora começaram a enviar muito spam com publicidade e resposta é só bot. Cancelei a inscrição.
Além do mais, de acordo com que fui me aprofundando no material, percebi que há muito conteúdo repetitivo, ‘lugar comum’, ou simplesmente inaplicável – como indicar o app Grammarly para correção gramatical quando esse app só funciona com a língua inglesa 🙄.
Vou continuar fazendo os exercícios dos cursos que já tenho e postando aqui, no entanto.
Para esse post, até tentei desenhar um anjinho, mas ficou tão tosco que desisti de postar: ia era assustar vocês 😂. Vou fazer iterações, se algum dia ficar bom, eu compartilho 😃.